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O valor do Professor
Dedico
hoje este espaço aos professores que ensinam em todos os níveis,
principalmente o professor do Ensino Básico, que não tem o
reconhecimento que deveria por parte da sociedade brasileira. Um dos
principais motivos do fracasso da educação no país é exatamente este: a
falta de valorização do professor, o verdadeiro “herói brasileiro”.
A
Educadora e escritora Tânia Zagury em seu livro “O Professor Refém”,
realizado a partir de pesquisas com professores do ensino básico, que
estão em sala de aula, escreveu acerca da situação dos professores e
mostrou que as sucessivas mudanças do sistema de ensino no Brasil,
especialmente a partir de 1970, não foram acompanhadas das condições
necessárias à sua execução, ou seja, mudaram-se as leis, mas não a
realidade de sala de aula. Além disso, a falta de limite das crianças e
jovens minou a autoridade do professor ao mesmo tempo em que,
paradoxalmente, transferiram-se para a escola atribuições tradicionais
da família. A indisciplina e a falta de motivação das crianças e jovens
tornaram-se, em consequência, dois dos maiores problemas dos educadores.
Nesse contexto, o professor hoje se tornou uma espécie de “Refém”.
Refém da má qualidade de ensino que ele próprio recebeu;
Refém do tempo que necessita, mas que não dispõe;
Refém das pressões internas que sofre do sistema;
Refém da própria consciência que ele revela a sua impotência;
Refém dos alunos, que hoje os enfrentam em muitos casos;
Refém da família que perde autoridade sobre os filhos;
Refém da sociedade, que surpreende professores e gestores com medidas cautelares, mandados de segurança, e processos...
Mesmo
diante deste quadro, os professores não podem perder a esperança, têm
que quebrar as amarras, e com amor e competência conquistar o respeito e
o reconhecimento que a sociedade lhes deve.
Como forma de homenageá-los, pelo 15 de outubro, Dia do Professor, desejando paz, coragem para prosseguir com entusiasmo a carreira que abraçaram, deixo as reflexões em forma de poesia de um grande mestre da atualidade , contemporâneo Celso Antunes:
Quem é?
...
Quem é esse estranho personagem?
Homem ou mulher, velho ou moço, que em sua ação é ao mesmo tempo músico e regente?
Quem é essa estranha figura que em seu trabalho chora e ri, fala e escuta, conta e encanta?
Quem é esse ator que precisa entusiasmar o grupo e ao mesmo tempo atender o apelo individual?
Precisa manter a ordem sem perder a serenidade; falar a todos, ouvindo a cada um?
Quem é?
...
Quem é esse estranho personagem?
Quem possui a indômita magia para ajudar que todos desabrochar a se expressar, aprender e se transformar, construir e sonhar?
Quem
é esse estranho malabarista que necessita se equilibrar entre conteúdos
e competências, limitando excessos, favorecendo autonomia, acordando
inteligências, provocando pensamentos?
Quem é?
...
Quem
é esse anjo que empresta a filho dos outros, o tempo que para os seus
não tem e que cobrado pelos desafios da vida sempre dura, não consegue
apagar a emoção que a rotina propicia?
Quem é?
...
Quem é esse estranho personagem?
Que
necessita sempre resolver, saber, decidir, propor, desafiar sem
oportunidade de perder o instante, sem o recurso de deixar para depois?
Quem possui essa aura para esgotado, renovar esforços; combalido encontrar energia?
Quem é?
...
Quem pode, ao entrar em cada classe, refazer-se novo como se aquela fosse a única?
Quem é esse estranho personagem?
Que
aprende a empatia que ensina, pratica a solidariedade que prega,
administra a progressão do currículo que deseja, avalia com olhar
abrangente, vibra com sucessos que não são seus.
Quem é esse distribuidor de sementes que não colhe para uso próprio os frutos que plantou?
Quem é?
...
Quem é esse teimoso otimista que confia no aluno, que acredita no amanhã, que espera sempre pelo sonho?
Quem é esse estranho personagem?
Se ignorar a resposta, busque-a no espelho prezado professor...
Parabéns a você professor que a cada dia transforma um pedacinho do mundo.
Profª. Nelly Falcão